O sequestro de cinco dias de uma jovem que acabou em morte
A trama que contarei hoje durou cinco dias e envolveu uma jovem de apenas 15 anos, Eloá Cristina Pimentel. O caso ficou conhecido como um dos mais longos sequestros de SP e foi transmitido do começo ao fim pelas emissoras de televisão, em 2008. O Brasil assistiu em tempo real cerca de 100 horas de negociação, período no qual os erros gravíssimos cometidos pela polícia contribuíram para que tudo terminasse em tragédia. Saiba como este momento histórico se desenrolou no sexto capítulo da nossa série “Julgamentos Históricos nos Tribunais Brasileiros”.
O início do sequestro
Quando Eloá acordou no dia 13 de outubro, não imaginou que o trabalho escolar que faria naquela data se transformaria nos cinco piores dias de sua vida. Durante a reunião entre colegas, a jovem foi surpreendida com a invasão ao seu apartamento por seu ex-namorado, Lindemberg Fernandes Alves, de 22 anos. O ato foi motivado pelo término recente do casal, acontecimento que o rapaz não havia superado.
Quando Limdemberg invadiu o local, dois amigos foram liberados, permanecendo apenas Eloá e sua amiga, Nayara Rodrigues, junto ao sequestrador. Como era de se esperar, os colegas liberados acionaram a polícia e logo o prédio estava envolto de policiais e jornalistas.
Desde o início, Lindemberg Fernandes não pretendia encerrar o dia sem causar sofrimento. Para ele, se tratava de vingança e, caso não conseguisse o que queria, não tinha intenções de sair vivo do apartamento.
Em todos os canais de televisão o assunto era o mesmo: a cobertura do caso de Eloá, a garota de apenas 15 anos mantida refém pelo ex-namorado na cidade de Santo André, no ABC Paulista. O povo brasileiro acompanhava em tempo real as tentativas de negociação entre a policia e o sequestrador, este que também assistia a tudo pela televisão do apartamento em que mantinha as duas meninas em cárcere.
Após um dia de sequestro, Eloá conseguiu aparecer na janela do apartamento, sinalizando que estava viva e “bem”, pedindo calma a todos que assistiam. Essa cena se repetiu algumas vezes durante os cinco dias de sequestro, chances que não foram bem aproveitadas pela equipe da polícia.
Quando o cárcere já completava 33 horas de duração, ocorreu o primeiro sucesso da negociação: Nayara, amiga de Eloá, foi libertada por Lindemberg em troca do reestabelecimento da energia do apartamento que havia sido cortada pela polícia. A jovem relatou não ter sofrido agressões, mas Eloá foi vítima de socos e pontapés.
Apesar de todo o trabalho realizado para libertar Nayara, esta vitória não durou muito tempo, pois foi decidido que a jovem voltaria para o cativeiro e tentaria negociar com o sequestrador. Sem a escolta de um profissional da polícia, a garota retorna ao apartamento e NOVAMENTE se torna uma refém de Lindemberg, ato que foi considerado um dos grandes absurdos deste caso.
Todas as outras negociações falharam e o povo brasileiro, que assistia de casa o que estava acontecendo, não fazia ideia de quando e como as coisas terminariam para Eloá e Nayara.
Foi apenas depois de cinco dias, se tornando o mais longo cárcere privado de SP, que o caso Eloá caminhou para o seu fim. Após escutar o barulho de um possível disparo de arma, a polícia resolveu invadir o apartamento, explodindo a porta do local.
O caso terminou com ambas adolescentes baleadas: Eloá atingida na cabeça e na virilha e Nayara no rosto. Apenas a amiga sobreviveu. Infelizmente, Eloá teve morte cerebral.
Lindemberg foi preso naquele dia e condenado em janeiro de 2009 por 12 crimes. Sua pena totalizou 98 anos e 10 meses, mas foi reduzida a 39 anos de prisão.
Erros da polícia e espetacularização na mídia
Que o caso de Eloá teve uma sequência de erros graves é inegável. Até os dias de hoje se debate a frieza das negociações e a falta de preparo da equipe policial para tratar do caso. Até então, a mais longa negociação em um sequestro havia durado nove horas. O caso envolvendo a jovem de 15 anos durou cerca de 100 terríveis horas.
Além disso, foi possível ver as imagens que detalharam o caos que se à ação da polícia ao invadir o prédio, logo após identificarem um possível disparo dentro do apartamento. O momento foi tão conturbado que nem mesmo a equipe médica conseguia ultrapassar os policiais para atender as vítimas. Eloá foi carregada baleada por um dos policiais, sem protocolos mínimos de saúde e atendimento, podendo feri-la ainda mais.
A mídia também foi alvo de críticas, acusada de espetacularizar o caso. Limderberg até mesmo foi entrevistado no programa da jornalista Sônia Abrão DURANTE o cárcere de Eloá e Nayara, ato extremamente criticado posteriormente.
O documentário “Quem matou Eloá?”, lançado em 2015, aborda os erros cometidos durante o caso que parou o país por cinco dias, debatendo e refletindo sobre a parcela de culpa de todos os envolvidos, inclusive a mídia. Vale a pena dar uma olhada!
E você, acompanhou este caso? Me conte a sua opinião!
Até a próxima, pessoal!